sexta-feira, 30 de maio de 2014

Capitãs de Abril - A Revolução dos Cravos Vivida pelas Mulheres dos Militares

Excertos do livro "Capitãs de Abril - A revolução dos cravos vivida pelas mulheres dos militares"
de Ana Sofia Fonseca - A Esfera dos Livros



Cap. V - Saltar da Cama

"Entre o namoro da cidade e as cartas trocadas, Gabriela e Ernesto (Melo Antunes) criam uma cumplicidade muito sua, mais gestos do que palavras, Aos poucos, ela abandona as leituras da adolescência, romances submissos e vidas de princesa. Com «A Biblioteca das Raparigas» arrumada a um canto, apega-se aos autores que ele lhe empresta, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Lev Tolstoi, Karl Marx... «Foi aí que comecei a abrir os olhos», a descobrir que Portugal não era a redoma dourada da casa de família. O pai, que a sonhara casada com rapaz de suas relações, torce o nariz aos amores «com o grande esquerdista». Ainda mais, um «homem do continente, de quem nem se conhece os pais». Mas prefere o risco à censura, o anúncio da resignação numa frase: «Ao menos este dá tiros.» Tempos antes, a miúda andara de olhares doces «com um playboy», o que muito o agastara."
p.119

Cap. VIII - Abrem-se as Janelas

"Uma mulher não é de ferro. O pior já passou, há horas que o pequeno rádio só dá boas noticias, está tudo bem, repete para si mesma. (...) O coração diz-lhe que Otelo Saraiva de Carvalho está entre os principais protagonistas do golpe. O marido nunca foi de papéis secundários e ela sabe disso. Quando lhe contarem que se aproximava das pessoas e, sem mais delongas, anunciava «eh pá, vou fazer uma revolução e preciso de ti», Dina não duvidará. Conhece-lhe o temperamento e também o carisma. O golpe tem muito da sua loucura e ela pressente-o.
(...)
Finalmente, o regime no último sopro. Quantas vezes pensaram que caía e nada acontecia? Primeiro, a série de sobressaltos em 1961. Depois, a crise académica, a contestação internacional... Bem se lembra da esperança aquando da queda de Salazar da cadeira.
Foi no início das férias de Verão. (...) O Forte estava entregue ao Instituto de Odivelas, mas há muito que, em Agosto, era a residência de férias do presidente do Conselho. Salazar fazia questão de pagar o alojamento e, para não incomodar, levava de São Bento tudo quanto era necessário. Uma semana antes, D. Maria, a fiel governanta, começava a emalar roupa de casa, louças e talheres."
p.201

no site da Esfera dos Livros


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